domingo, 29 de junho de 2008

Irritação

Como acabei de dizer, sinto-me extremamente irritado. Estou há 4 ou 5 dias massivamente a trabalhar com material de um filme do qual não me convém escrever o nome por extenso mas do qual se poderá aceder à trailer aqui:
http://youtube.com/watch?v=ogBjxasdQR0
Irrita-me profundamente que um filme escroto destes seja objecto de tanto investimento e perda de tempo e recursos. Irrita-me que esterco deste sáia todos os anos, sempre na altura do verão mas acima de tudo irrita-me ter de passar tanta hora a olhar para o focinho nojento destes filhos da puta.
Há gente a quem deveria ter sido oferecida uma vasectomia ou 1 balázio de caçadeira, ou ambos, por qualquer ordem.

Claro que a arte tem de contemplar diversas esféras e targets sociais etc, não vou contradizer o Adorno e a malta dele, quando vejo merda de cão no chão não dou pontapés, contorno e olho em frente. Mas este é o género de dejecto cultural a que se submetem os miúdos hoje em dia, na esperança de diminuir a curiosidade por ver mamas ou filmes sobre a segunda guerra na TV. Antes os vissem.
Puta que pariu.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

memória de elefante

Há três anos vivia numa residência universitária, aqui no norte de Inglaterra. Era um rés do chão minado de miúdos de 17, 18 anos e as noites alternavam entre guerras de super-soakers cheias de cerveja e cozinhar bolos com hash de má qualidade. Estes eram oferecidos aos que estudavam e não bebiam, nem que isso significasse ambulâncias às duas da manhã e visitas ao tribunal académico.
As noitadas, eram portanto uma constante, nalgum dos quartos de dois metros quadrados que cada um ocupava. Lembro-me de ter cozinhado para um paquistanês, um queniano, um inglês e um cipriota. O queniano arrotou copiosa e demoradamente ao que o inglês, na sua insípida e intrínseca condição de britânico murmurou Isso não são maneiras à mesa. O cipriota riu-se, foi o meu companheiro durante o curso aqui, enquanto que o paquistanês rematou No país dele nem mesas têm.
De qualquer forma, não foi a altura mais deslumbrante da minha vida e pouco tempo depois aleijei-me. Dormi 11 noites sentado numa cadeira devido ao que, deduziram depois, ter sido uma lesão da pleura com que me contemplei a fazer exercício. As festas continuavam na mesma, óbviamente e certa noite iluminada por velas baratas, enchi a alcatifa de cera. Era uma alcatifa de um azul escuro, mas vivo e aquilo irritou-me profundamente. Mal me conseguia mexer, então saí e procurei as tipas da limpeza, explicando a situação. A que respondeu era uma senhora de uns quarenta e dois anos, bonita de cara e fisionomia um pouco massacrada pela função. Aprendi, contente, que a maneira mais fácil de absorver cera agarrada a tecidos era passá-la a ferro, por cima de um tipo qualquer de papel, que já me esqueci (edit: é papel pardo! (Obrigado Inês)). Observei-a, sentado na cadeira, aflito do tórax mas satisfeito. Foi bastante simpática.

E isto tudo para dizer que hoje ao sair do autocarro vi-a por dois segundos na rua, não me reconheceu.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

:)

"E graças a Starnina, ou a Uccello, ou a quem realmente pintou esse quadro, necessito com a máxima urgência que me abraces com uma violência razoável mas contundente e deixes em branco o conta-quilómetros do meu cérebro. Ou que o partas. Tenho prazer em comunicar-te que és muito bonito, Faulques. E estou nesse ponto exacto em que uma francesa passaria a tratar-te por tu, uma suíça tentaria averiguar quantos cartões de crédito trazes na carteira e uma norte-americana perguntaria se tens um preservativo."

Arturo Perez-Reverte

sábado, 21 de junho de 2008

corredores

Não sei quantas portas já abri e fechei, sei que são muitos corredores enleados - alvéolos estáticos de salas antigas, um vitoriano latente. Não sentes? Se reparares, quanto mais avançamos mais sentes as paredes abraçarem-te, sentes que a caminhada é feita em tapete vermelho, como nos filmes. E eu acho, e tu também, que os temos de percorrer todos. Estou a falar de mim e dos meus olhos, o tu sou eu e o monólogo contempla-te, mas tem de ser assim, é comigo e para mim que o desejo dos beijos brotou e vive. Tu também podes abrir os quartos de maçanetas gastas, não tenho chaves para eles todos e nem quero, confio plenamente na cadência das tuas escolhas.
Daqui a bocadinho o sol põe-se e de alguma forma o tempo vai embora, mas eu juro que não me importo de andar no escuro. Os gatos andam e não se queixam das vidas breves, portanto eu também não me lamento de nada. Vou andar por estes corredores o tempo que me apetecer, porque como já viste fazem sentir bem.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

excerto



Troquei umas palavras contigo e sorriste, contorcendo as pernas como um desenho animado da Warner com 40 anos num domingo de manhã quando a ressaca me forçava a ver televisao e bebericar expressos da nossa máquina de marca alemã. Disseste que me querias conhecer melhor, tinhas a sensação de que nos daríamos bem. Foi a ultima vez que concordei contigo.

Do despedimento do elogio

e reages assim ao elogio que te faço, as vibrações da longevidade das tuas pestanas, no encerro do despedimento que me proferes. longas e castrantes da magnitude por onde se estenderiam os teus olhos, rasgando a nobreza do teu rosto pálido. e os remates das maçãs do rosto, firmes e mães desse sorriso sincero tão verdadeiro e eterno enquanto durou. o costura rosada e marcada pelo sinalinho que te define a simetria do lábio superior afasta-se do beiço que se esconde em promessas de lascívia e aqueles (e tantos, lembras-te?) desarmes da minha líbido. porque te sai luz da boca, porque me encandeia os olhos e me fermenta a saliva por dentro e as seivas que não ficarão em mim, escorrerão pela tua timidez e polirão as nossas texturas nos pequenos combates. reages assim, com essa manifestação despreocupada, ameaçadoramente insconstante de acessos de escárnio ou vergonha? porque não sei e tens olhos de vidro, olhos de céu como te disse, serias o mar em q me afogava e foste mãe duas vezes da continuação dos meus sonhos. meninas gotas de chuva q se diluiram nas tuas e minhas lágrimas. desculpa. desculpa.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Gramata.

Em Seres, perto de Thessaloniki, falaram-me dos 4 mil anos de história da Grécia. Fiquei extremamente curioso sobre o conflito Turco e as incursões navais para proteger a Grécia. A maioria dos gregos não sabia ler e ficavam, portanto, incontactáveis quando saíam para o mar. Esta música tem muitos mais anos do que eu, e fala precisamente disso. Interpretada aqui pelo G. Dalaras. Enjoy.



sto pa kai stoxsanaleo
sto gialo min katebeis
ki o gialos kanei fourtouna
kai se parei kai diaveis

ki an me parei pou me paei
kato sta vathia nera
kano to kormi mou varka
ta herakia mou koupia
to mandili mou panaki
mbainobgaino sti steria

sto pa kai sto ksanaleo
mi mou grafeis grammata
giati grammata den ksero
kai me pianoun klamata

-

Acaba em algo como:

...
Disse-te um dia e volto a dizer
Não me escrevas cartas
Porque não sei ler
E quebro-me em lágrimas.

Saudades.

Cerca da noite

Há dois copos numa mesa, de pé, lado a lado - um lugar comum de calor. As duas bebidas ou nectares evaporam-se e ambos vapores abandonam os copos em percursos de hedonismo sinuoso em passadas de tempo.

Agora tocam-se com espasmódicos movimentos num tango de soslaio. Semelhante aos olhos daquele cabrão francês. Agora os dois violinos retomam e no refrão decadente as duas bebidas dissipam-se no ar e misturam-se com a rugosidade da tua pele.

E nós, e também eles os dois, ignoramos tudo isto, somos pares e digestões de dualidades breves e o que permanece numa página é a solidez resquícia da tinta odiosa.Adeus

Algo a ver com adeus

Somos péssimos com despedidas. Somos péssimos com despedidas porque sai-nos o tiro pela colatra, e ao invés de um adeus com a textura do cetim, traduzimos o nosso nervosismo em tiques, taques e onomatopeias de engasgos comprometedores. E eu não te sei dizer adeus tãopouco, não tenho maneira de saber se só existem os quilómetros entre nós ou outros espaços e outras distâncias que vão semeando este leve paludismo em mim. Só tu me podes dizer adeus. Só tu me podes dizer adeus. Só tu me podes dizer adeus porque és dona do meu sono e das minhas noites conquanto não seja a ti que abrace, mas sim a uma grande almofada que abraço e encolho e esmago até se parecer com o diâmetro da tua coxa...

Não me despeço porque tenho o teu corpo nos olhos e a tua pele na garganta e as tuas seivas na boca e tudo me escorre pelos lábios pelos braços e até às pontas dos dedos para te escrever assim, amor.

Zero, setenta e cinco

Era uma vez alguém que um dia pensou, Estou farto de não pertencer a sítio algum. Foi também dessa mesma vez que te disse que tinha gostado imenso de ti. Disse-o com uma extensão gástrica, metabolicamente exaustiva e pura. Lembro-me de que me falaste de tudo. Falaste até das asas dos galos.
O alguém pensa que Parece que sou mudo, tenho o estômago forrado de salivas que lubrificaram o que te disse em tempos. Mas um dia destes chego a ti, outra vez, rimo-nos sempre.É dezembro há muito tempo e agora o sol queima demasiado o chão lá fora. Vivemos todos em Dezembro mais do que nos é estritamente aprazível. Condescendentes. Para o ano, por esta altura, estarei enforcado de gravatas num escritório menos mau que o anterior, a pensar no mesmo. Daqui a um ano não sei de ti.

Raivas

A animosidade e as raivas brotam da nossa indigestão das coisas. Nascem por nos entregarmos às cólicas. Jà a compreensão traduz um igualar de antagonias precoces. Entender, leva inevitavelmente a aceitar, e conferir harmonia à diferença e desentendimento.Por tal, considero a raiva uma menosvalia do espectro emocional - o nosso espectro emocional. Resta sublinhar-lhe o carácter pouco nobre no meio de uma grandiosa aristocracia de invisibilidades.

Debaixo

Está debaixo da cama há duas horas, talvez mais. Agora não pode sair, senão, apanham-no. Não interessa ter-se portado bem, hoje nem fez os trabalhos. Tem de ficar exposto ao escuro mais algum tempo, o escuro que lhe empalidece a derme. Nessa, abriu uma boca nova, mais uma que se silencia. Esta nova morde-se, trazendo uma dor quente à perna.Pior que o escuro é não haver mais ninguém debaixo da cama. Seria mais fácil enfrentá-lo de mãos dadas. Mas ele tem-nas fortes, decididas, de dedos nodosos que um dia demorarão a decomporem-se. Olhando de relance, detemo-nos no seu sorriso contagiante. Claro que não o vemos sorrir porque sabemos que soluça por dentro. Diz-se ter uma aura que combate o breu.Da crença em outros demónios, infere-se que este, criança, possui uma carcassa musculada. Inalterável pelas horas, chega a alimentar-se do gradual colapso do organismo pela fome. Nem está muito frio debaixo da cama, acho que vai permanecer lá. Só mais uma hora.

De algo mais

E eis que os sinos dobram. Nós escondemo-nos também, atrás de uma outra qualquer moita, travando uma guerra que não é nossa. Vulgo em guerra as batalhas da mente, particularmente a incansável e inalcansável fuga da solidão – a calma, essa só se atinge pela honestidade de cada um consigo.São dois os gumes deste golpe, um aceitamos, o outro é-nos imperativo. Sobre o primeiro, não me cansaria de sublinhar a maisvalia condescendente do conformismo. Bravos são os reaccionários – à nossa covardia não se atribuem medalhas.

Papéis soltos

Às vezes não somos de vidro querida, não transparecemos a fragilidade dos serviços estáticos numa mesa posta de linho branco. A ordem das coisas pela mão rude de quem não a deseja impor. Somos de outra coisa que não é vidro e somos urnas onde o ar descansa de quando em vez num percurso cíclico de Hades imaterial. O reflexo acode ao vidro, dá-lhe consistência, benesse indulgente.

Do mercúrio

Devaneios saem de nós sem regra mas a tua cor cheira-me à cadência do Sim. Loucuras são águas revoltas de opacidade, da turvidade indigerível que tu, cúmplice, nadas também. Eu beijo-te os pulsos magoados de algemas e há eternidade nisso sim. Vais sentir-me a boca, talvez, já depois dos sulcos sararem.

A última coisa que vi, antes de a ver.
Sinto que a estética de Liverpool luta com a sintaxe mediática para se fazer notar, sobrepor à caspa incómoda do que é relatado nos jornais. É extensa, agradável e violentável pela desatenção.
Foi também a primeira vez que saí para a rua com a canon, propositadamente, para lhe dar uso. 5 horas com ela na mão - talvez soe mal.
Mas soube bem.

Sejo bem vindo.

Bem vindo a mim, de mim.
Há dias perguntaram-me Onde vais? Respondi À merda.
- Com quem? Comigo, respondi, Tenho imensas coisas para me dizer.
E é verdade, costumo ter conversas comigo próprio. Acho que a circunstância dos anos assim o delimita, ou melhor, o compõe, uma psique, ou um ego fermenta num processo construtivo, penso eu.

Este blog documenta isso e vai servir também para corrigir os textos do meu fólio, que se conspurcam incessantemente em charcos de ortografia pobre, ajudas-me Lúcia? Lena. E é para vocês também, sei que falo estranho e assim será mais fácil estarmos perto.

Olá.