quarta-feira, 18 de junho de 2008

Gramata.

Em Seres, perto de Thessaloniki, falaram-me dos 4 mil anos de história da Grécia. Fiquei extremamente curioso sobre o conflito Turco e as incursões navais para proteger a Grécia. A maioria dos gregos não sabia ler e ficavam, portanto, incontactáveis quando saíam para o mar. Esta música tem muitos mais anos do que eu, e fala precisamente disso. Interpretada aqui pelo G. Dalaras. Enjoy.



sto pa kai stoxsanaleo
sto gialo min katebeis
ki o gialos kanei fourtouna
kai se parei kai diaveis

ki an me parei pou me paei
kato sta vathia nera
kano to kormi mou varka
ta herakia mou koupia
to mandili mou panaki
mbainobgaino sti steria

sto pa kai sto ksanaleo
mi mou grafeis grammata
giati grammata den ksero
kai me pianoun klamata

-

Acaba em algo como:

...
Disse-te um dia e volto a dizer
Não me escrevas cartas
Porque não sei ler
E quebro-me em lágrimas.

Saudades.

Cerca da noite

Há dois copos numa mesa, de pé, lado a lado - um lugar comum de calor. As duas bebidas ou nectares evaporam-se e ambos vapores abandonam os copos em percursos de hedonismo sinuoso em passadas de tempo.

Agora tocam-se com espasmódicos movimentos num tango de soslaio. Semelhante aos olhos daquele cabrão francês. Agora os dois violinos retomam e no refrão decadente as duas bebidas dissipam-se no ar e misturam-se com a rugosidade da tua pele.

E nós, e também eles os dois, ignoramos tudo isto, somos pares e digestões de dualidades breves e o que permanece numa página é a solidez resquícia da tinta odiosa.Adeus

Algo a ver com adeus

Somos péssimos com despedidas. Somos péssimos com despedidas porque sai-nos o tiro pela colatra, e ao invés de um adeus com a textura do cetim, traduzimos o nosso nervosismo em tiques, taques e onomatopeias de engasgos comprometedores. E eu não te sei dizer adeus tãopouco, não tenho maneira de saber se só existem os quilómetros entre nós ou outros espaços e outras distâncias que vão semeando este leve paludismo em mim. Só tu me podes dizer adeus. Só tu me podes dizer adeus. Só tu me podes dizer adeus porque és dona do meu sono e das minhas noites conquanto não seja a ti que abrace, mas sim a uma grande almofada que abraço e encolho e esmago até se parecer com o diâmetro da tua coxa...

Não me despeço porque tenho o teu corpo nos olhos e a tua pele na garganta e as tuas seivas na boca e tudo me escorre pelos lábios pelos braços e até às pontas dos dedos para te escrever assim, amor.

Zero, setenta e cinco

Era uma vez alguém que um dia pensou, Estou farto de não pertencer a sítio algum. Foi também dessa mesma vez que te disse que tinha gostado imenso de ti. Disse-o com uma extensão gástrica, metabolicamente exaustiva e pura. Lembro-me de que me falaste de tudo. Falaste até das asas dos galos.
O alguém pensa que Parece que sou mudo, tenho o estômago forrado de salivas que lubrificaram o que te disse em tempos. Mas um dia destes chego a ti, outra vez, rimo-nos sempre.É dezembro há muito tempo e agora o sol queima demasiado o chão lá fora. Vivemos todos em Dezembro mais do que nos é estritamente aprazível. Condescendentes. Para o ano, por esta altura, estarei enforcado de gravatas num escritório menos mau que o anterior, a pensar no mesmo. Daqui a um ano não sei de ti.

Raivas

A animosidade e as raivas brotam da nossa indigestão das coisas. Nascem por nos entregarmos às cólicas. Jà a compreensão traduz um igualar de antagonias precoces. Entender, leva inevitavelmente a aceitar, e conferir harmonia à diferença e desentendimento.Por tal, considero a raiva uma menosvalia do espectro emocional - o nosso espectro emocional. Resta sublinhar-lhe o carácter pouco nobre no meio de uma grandiosa aristocracia de invisibilidades.

Debaixo

Está debaixo da cama há duas horas, talvez mais. Agora não pode sair, senão, apanham-no. Não interessa ter-se portado bem, hoje nem fez os trabalhos. Tem de ficar exposto ao escuro mais algum tempo, o escuro que lhe empalidece a derme. Nessa, abriu uma boca nova, mais uma que se silencia. Esta nova morde-se, trazendo uma dor quente à perna.Pior que o escuro é não haver mais ninguém debaixo da cama. Seria mais fácil enfrentá-lo de mãos dadas. Mas ele tem-nas fortes, decididas, de dedos nodosos que um dia demorarão a decomporem-se. Olhando de relance, detemo-nos no seu sorriso contagiante. Claro que não o vemos sorrir porque sabemos que soluça por dentro. Diz-se ter uma aura que combate o breu.Da crença em outros demónios, infere-se que este, criança, possui uma carcassa musculada. Inalterável pelas horas, chega a alimentar-se do gradual colapso do organismo pela fome. Nem está muito frio debaixo da cama, acho que vai permanecer lá. Só mais uma hora.

De algo mais

E eis que os sinos dobram. Nós escondemo-nos também, atrás de uma outra qualquer moita, travando uma guerra que não é nossa. Vulgo em guerra as batalhas da mente, particularmente a incansável e inalcansável fuga da solidão – a calma, essa só se atinge pela honestidade de cada um consigo.São dois os gumes deste golpe, um aceitamos, o outro é-nos imperativo. Sobre o primeiro, não me cansaria de sublinhar a maisvalia condescendente do conformismo. Bravos são os reaccionários – à nossa covardia não se atribuem medalhas.

Papéis soltos

Às vezes não somos de vidro querida, não transparecemos a fragilidade dos serviços estáticos numa mesa posta de linho branco. A ordem das coisas pela mão rude de quem não a deseja impor. Somos de outra coisa que não é vidro e somos urnas onde o ar descansa de quando em vez num percurso cíclico de Hades imaterial. O reflexo acode ao vidro, dá-lhe consistência, benesse indulgente.

Do mercúrio

Devaneios saem de nós sem regra mas a tua cor cheira-me à cadência do Sim. Loucuras são águas revoltas de opacidade, da turvidade indigerível que tu, cúmplice, nadas também. Eu beijo-te os pulsos magoados de algemas e há eternidade nisso sim. Vais sentir-me a boca, talvez, já depois dos sulcos sararem.

A última coisa que vi, antes de a ver.
Sinto que a estética de Liverpool luta com a sintaxe mediática para se fazer notar, sobrepor à caspa incómoda do que é relatado nos jornais. É extensa, agradável e violentável pela desatenção.
Foi também a primeira vez que saí para a rua com a canon, propositadamente, para lhe dar uso. 5 horas com ela na mão - talvez soe mal.
Mas soube bem.

Sejo bem vindo.

Bem vindo a mim, de mim.
Há dias perguntaram-me Onde vais? Respondi À merda.
- Com quem? Comigo, respondi, Tenho imensas coisas para me dizer.
E é verdade, costumo ter conversas comigo próprio. Acho que a circunstância dos anos assim o delimita, ou melhor, o compõe, uma psique, ou um ego fermenta num processo construtivo, penso eu.

Este blog documenta isso e vai servir também para corrigir os textos do meu fólio, que se conspurcam incessantemente em charcos de ortografia pobre, ajudas-me Lúcia? Lena. E é para vocês também, sei que falo estranho e assim será mais fácil estarmos perto.

Olá.